17 de junho de 2010

este ar de verão

o restaurante rasca onde a maioria das moscas completa a sua existência, em rota angular, é também perfeito para rever a elementaridade (?) da vida e do seu percurso. há uma qualquer generosidade na toalha de papel branco, no copo de vidro riscado pelas excessivas lavagens, nos pratos lascados e na travessa de alumínio.
encaro os olhos da empregada de mesa que agora é brasileira, mas já foi moldava, romena e ucraniana, peço o prato do dia que não deixa, jamais, de incluir batatas fritas e reparo no ferveroso público masculino, sempre pronto para apreciar um jogo de futebol ou um par de mamas mais saliente. este ambiente é levado ao extremo das memórias da minha infância, quando o meu avô me levava a casal de esporão (a aldeia ao lado) e me pagava garrafas de sumol de ananás para eu não querer regressar rápido para casa. e é recorrente que este sentimento genuíno de aquele querido mês de agosto se afunde em mim quando o calor aperta e começa a pairar no ar a incómoda sensação de despreocupação que é suposto trazerem todas as férias.
enfim, chega a água ao copo riscado e a porta da cozinha abre-se para me remeter salsichas e batatas fritas com a quantidade suficiente de óleo para bronzear a mucosa do meu estômago. isto faz mal à saúde, penso. apetece-me então sujar as mãos de terra ou de cimento, sentar-me ao lado dos restantes e, ao reclinar-me na cadeira, suspirar e atirar para o ar um "não tenho sorte nenhuma", nem no jogo, nem no amor. tenho a certeza de que, na sinceridade comum aos presentes, alguém iria romper com um "é a ti que deveria sair o euromilhões"...

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