10 de junho de 2010

atlântida

há anos que tento desenhar no teu rosto um vulto austero e imutável, mas a água da chuva alaga constantemente a minha obra final. todo este ciclo d'água é para ti objecto de desprezo. queres lá saber se chovem lágrimas ou oceanos, se ficam os peixes sem lar ou as mulheres sem ar. abdicas do conhecimento geológico como quem recusa uma casa com janelas. é certo que serás maior que o teu corpo e que a excessiva massa muscular te concede a resistência necessária para que não vergues com o vento. é certo que o ritmo dos teus passos pouco deixa a desejar à percussão e que a bomba que ostentas no peito raramente se exalta ou se deixa contagiar. há anos que tento desenhar no teu vulto um rosto mutável e sentimental. esta estrada é longa e tu não entregas o corpo às farpas. havias de engolir um gigante aquário salgado e desaparecer n'um único dia e noite de infortúnio. sempre quis saber para que lado voas no holocausto e como enfrentarás o sangue negro da destruição.

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