19 de fevereiro de 2008

não como, não durmo; penso o cristal dos olhos:
gotas de névoa escorregam a sua textura vítrea.
evaporei-me.

a minha vizinhança é silenciosa. numa ou noutra noite, sempre noite, um homem acorda e chora no meu peito. não sei quem ele é, nem porque chora, nem como está aqui.

a vida empurra-me para a rua.
as cidades gritam e chamam por mim:
acorda!

não sei das minhas roupas, sou nua.
não como, não durmo.
não tenho voz. não tenho tempo.
o homem que chora no meu peito não voltou a acordar.

nascemos para viver a solidão, penso.
quebra-se o cristal dos olhos,
estilhaços no coração.

é tarde, muito tarde
e há muito que morri.

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