olhas as paredes do meu quarto como se te procurasses. colas o rosto ao vidro da janela, porque para dentro dela só existimos nós e para lá dela, o resto da existência chama por ti. jamais te quis prender neste mar de gelo em que é quente a ausência.
a tua pele está queimada pelos raios de sol e pelo deserto, e onde quer que habites, ninguém sabe quem és. és um homem só e não sabes viver sozinho. inventas fugas paranormais, refúgios para além das árvores, sombras na tua memória e pequenos lapsos de tempo no passado. realizas eficazmente o nó da gravata, apertas com força o cinto que te segura as calças, passas a mão direita pelo cabelo curto e ensaias o ar mais sério frente ao espelho - esse espelho é meu, e é demasiado velho.
não mordas o lábio inferior que te faz falta, nem abocanhes a mão inteira como se vivesses da raiva, não esperes que sinta a tua presença nem que esta vida se torne insignificante do outro lado da porta. para lá da aventura, és um homem sério.
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