29 de junho de 2008

um dia, envelhecerei à beira-mar. o tempo será distante. o sol estará mais próximo da terra e secará a juventude da minha pele. adormecerei de pálpebras abertas, sem medo. o preto dos meus olhos confundir-se-á com o azul anoitecido do céu negro. talvez, por essa altura, não existam tantas estrelas. as noites serão mais longas, as imagens mais nítidas; os sonhos, longínquos. a minha primeira paixão será saudade e o bater das asas das gaivotas. lembrarei os gritos, ouvirei fado, lembrar-me-ei do meu pai. talvez, envelhecida, ainda saiba chorar. recordarei palavras: deusa, claridade, fluorescência, amor, amora. olharei as minhas mãos e verei as tuas, as tuas, as tuas, as tuas, as tuas, as tuas, as tuas. o meu coração baterá lento nos pés, na testa, na garganta, no peito. o meu coração lançar-se-à ao tejo, morto de nostalgia. no horizonte, arderão cidades e cinco homens; e as crianças, poucas, transformar-se-ão em flores eternas. um dia, será tarde...e eu envelhecerei sentada à beira-mar, desenhando um rosto que nunca conheci.

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