21 de maio de 2010

that there, that's not me!

querido,

não sei se por estarmos juntos no alfabeto ou na perdição, a esta pequena distância os teus movimentos assemelham-se a seda sobre a pele feminina e perfumada que desejei ter.
parece-me óbvio que sejas surdo para enfrentar a minha cegueira e o consequente mau hábito que tenho de quebrar as peças de cristal com o grito interior. podes violar-me o pescoço com um laço apertado. podes até atar-me à cintura como quem exibe um diamante. já não tenho sonhos nem sede de saliva. gostaria de inverter a lógica da paixão e deixar o lamento dos perdidos para aceitar a peito cheio o golpe da monotonia. largar esta micro-revolta interior, fazer por não resistir. tenho as pernas doridas, a marca da força dos teus dedos no meu braço esquerdo, o sobrolho direito levemente inchado e o sangue empastado dentro do corpo. não temos muita sede de existir, na verdade, e o caminho sereno da velhice alheia gera-nos certa dose de incómodo. canta-me um desses hinos à solidão do vincent gallo e pede a deus que não me acorde amanhã.

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