chove muito e eu não consigo dormir. não é que não tenha sono, mas o frio inquieta-me. enfim, queria dizer-te que és o meu amor. e isto dos amores é esquisito, eu sei, mas tu és o meu.
tenho pensado em muitas maneiras de to dizer, mas acabo sempre a pensar que não vale a pena, e que, se é verdade, tu deverás sorrir por mim, uma ou duas vezes, mesmo sem te aperceberes. e não é amor de te querer para mim, casar contigo e ter muitos filhos e viver numa casa bonita num sítio bonito. é amor de passar horas a admirar-te e ser feliz por isso.
tenho algumas fotografias que te tirei afixadas na parede do meu quarto. aquela porcaria do patafix volta e meia descola-se e ficas caído no chão, atrás da cabeceira da minha cama. sinceramente, eu não quero saber. aliás, quando acordo a meio da noite, assustada com os pesadelos, lembro-me que o único monstro que habita por baixo da minha cabeça és tu, e assim até fico mais descansada.
hoje à tarde, enquanto estava no trabalho, dei por mim a bater com o pé no chão e lembrei-me do que me disseste. no fundo da minha rua há uma loja de instrumentos musicais e já lá tenho passado algumas vezes para espreitar as baterias. são caras. se eu tivesse muito dinheiro, aprendia e juro-te que te enviava um e-mail para ir em digressão contigo. não tenho muito dinheiro, nem muita sorte, e bem, agora que penso no assunto, as aulas e a bateria até era capaz de comprar, mas quanto ao e-mail, perderia a coragem. quer dizer, tanta gente no mundo que toca bateria, não é? e eu, só porque tenho o tique nervoso de bater o pé...não. é óbvio que não te diria nada. as pessoas esperam sempre certas coisas umas das outras, e eu prefiro que não esperes nada de mim e que, quanto muito, te recordes vagamente da minha felicidade. às vezes sinto-me sozinha. aliás, não é só às vezes, é quase sempre.
esta é uma carta que nunca irás receber. a tua morada é inalcançável e terás muitas mais às quais responder. agora tenho que me ir deitar e forçar o sono a chegar, inventar outra história e fingir que está tudo bem. eu gostei de falar contigo; se calhar volto a repeti-lo. espero que não te importes. no fundo, o que eu queria era ser o amor de alguém; assim, como tu és o meu. espero que estejas bem, porque eu gosto muito de ti.
um abraço,
cláudia
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