3 de março de 2007

postal emoldurado na parede do quarto

um rosto cavado em sulcos de pele, profundos - dentro deles caberiam tantas lágrimas, sem que alguma vez se inundasse a face - olhava o rio. como lhe sei a cor da expressão? não sei: era um homem, um homem antigo, pintado a preto e branco contra a luz crepuscular de um dia de inverno anunciado fim nos líquenes e lixo esverdeado das pedras mortas. sentava-se numa raiz velha, exposta, de um carvalho silencioso, sepultado no princípio da calçada. aguardava o desabrochar das flores, das magnólias, da primavera, da vida.
quanto tempo separa o adormecer do acordar? quando se dorme? quanto se ama? quanto se morre? quando se morre?
adivinhar-lhe-ia uma expressão serena, a queda tardia de uma folha resistente e seca, melodiosamente cuidada, esperada. e se tudo falece a ocidente, que distância se mede na ordem dos dias? o que preenche as rugas mais fundas do coração, se um homem não chora?

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